O documento, revelado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”, e que o g1 também teve acesso, mostra que os investigadores identificaram pelo menos seis pessoas, ligadas ao governo do estado, que recebiam salários de até R$ 23 mil. O gabinete no qual eles estavam alocados seria o do ex-deputado estadual Eduardo Farias, que deixou a Aleac em 2015.
Este parecer, produzido por meio de provas colhidas durante as fases anteriores da Operação Ptolomeu, foi enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) na última sexta-feira (24) e aponta ainda que houve ‘realocação’ de alvos em outras funções públicas, tendo em vista que o parecer dado pela ministra Nancy Andrighi, relatora do caso, inclui a restrição de ocupação de cargos públicos.
Dentre os listados pelo relatório da PF, estão:
- Rosângela da Gama Pereira Pequeno, ex-chefe de gabinete que foi presa na 1ª fase da Ptolomeu
- Anderson Abreu de Lima, tio do governador Gladson Cameli e ex-secretário de estado;
- Carlos Augusto da Silva Negreiros, coronel da PM-AC
- Glayton Pinheiro Rego, engenheiro civil
- João Lima de Souza, servidor comissionado
- Jerffson Luiz Pereira
- Arlindo Garcia de Souza
O g1 tenta contato com as defesas dos citados, mas não havia obtido retorno até a atualização mais recente desta reportagem..
Mesa diretora da Assembleia Legislativa do Acre alega erro de sistema — Foto: Carlos Alexandre/Secom-AC
Em entrevista coletiva nesta terça-feira (28), o procurador de Justiça de Estado, Marcos Mota, disse que todos os dados estão corretos e que a falha consistiu ao migrar tais informações para a vista de sistema do tribunal. Ainda de acordo com ele, não houve ‘má-fé’.
“Houve uma falha entre a comunicação dos dois sistemas. As informações saíam corretas do sistema da Aleac e eram recepcionadas de maneira equivocada no sistema do Tribunal de Contas no Sistema de Controle de Aplicação [Sicap], devido a uma tabela com códigos de especificação de unidade de lotação que não era compatível com a tabela de códigos de unidade de lotação aqui da Aleac. Se se deveu ao fato de que, no ano de 2021, a Aleac trocou seu sistema de gestão de pessoas e lá no Sicap, permaneceu a tabela do sistema anterior”, disse.
Ex-deputado Eduardo Farias manifestou supresa ao ver seu nome envolvido em susposto esquema — Foto: Reprodução/Rede Amazônica Acre
O ex-deputado Eduardo Farias se manifestou, nesta terça, pelas redes sociais a respeito do caso envolvendo seu nome. Ele disse que recebeu a informação ‘com surpresa’ e que vai informar à PF que não tem envolvimento com o caso. Em nota, falou ainda que encerrou o mandato em 31 de janeiro de 2015.
“Solicitarei ainda, na forma da lei, esclarecimentos à Mesa Diretora da Aleac sobre os referidos fatos e acionarei a Justiça para que sejam dadas as devidas providências legais quanto ao uso indevido de meu nome, o que incorre, no mínimo, em danos morais”, disse.
Na foto, 18 dos 34 investigados na terceira fase da Operação Ptolomeu, no Acre — Foto: Reprodução
Investigados
A ex-chefe de gabinete do governo do Acre, Rosângela Gama, já foi presa em dezembro de 2021 pela Polícia Federal, e agora atua como assessora técnica de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AC) com salário de mais de R$ 11 mil. A portaria foi assinada pelo presidente do TCE-AC, José Ribamar Trindade de Oliveira, no dia 27 de janeiro de 2023. O relatório mostra que ela passou a integrar o gabinete-fantasma em agosto a dezembro de 2023, seis meses após ser solta.
Anderson Abreu de Lima é tio do governador Gladson Cameli e ficou por três anos no comando da Secretaria de Estado de Indústria, Ciência e Tecnologia do Acre (Seict). Na época da exoneração, que saiu no Diário Oficial do Estado (DOE), dizia que foi ‘a pedido’ do gestor. O relatório da PF aponta que ele passou a receber, a partir de março deste ano, o montante de R$ 23 mil no gabinete de Eduardo Farias.
Carlos Augusto da Silva Negreiros era o chefe da Casa Militar do Acre, foi afastado durante a 3ª fase da Ptolomeu e foi exonerado em junho do ano passado. Apontado na presente investigação como um agente que, supostamente, atuou de forma direta em diversas operações de lavagem de dinheiro, a PF diz que ele passou a integrar como servidor da Aleac em janeiro de 2024, recebendo mais de R$ 8 mil líquidos.
Glayton Pinheiro Rego era fiscal de obras e atuava como servidor Departamento de Estradas de Rodagens do Acre (Deracre). Ele também supostamente estaria lotado no gabinete do Eduardo Farias, recebendo mais de R$ 7 mil.
Jerffson Luiz Pereira, dado pela PF como ‘importante operador de Gladson Cameli’, é apontado também como a pessoa que realizava depósitos suspeitos nas contas de Cameli e da ex-primeira dama Ana Paula.
João Lima de Souza é apontado pela PF como ‘transportador de valores’. Ele, assim como Jerffson, também foi lotado na Aleac desde janeiro deste ano recebendo mais de R$ 7,4 mil.
Arlindo Garcia de Souza também teve como destino o gabinete de Eduardo Farias este ano. O relatório da PF aponta que ele foi servidor-fantasma da Aleac de julho de 2021 a setembro de 2022, ‘com um aparente desvio dos salários recebidos em favor de Ana Paula, na época primeira-dama do estado do Acre”.
Gladson Cameli se tornou réu por unanimidade no STJ — Foto: Jornal Nacional/Reprodução
Governador réu
A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) recebeu, no dia 15 de maio, por unanimidade, a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) e tornou réu o governador do Acre, Gladson Cameli, por envolvimento num suposto esquema de desvio de recursos públicos. Os ministros, entretanto, negaram o afastamento de Cameli do cargo. Com isso, ele permanecerá à frente do governo do Acre enquanto responde à ação.
Na denúncia apresentada à Justiça em novembro passado, a PGR acusa Cameli pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva, peculato e fraude a licitação. Segundo a procuradoria, Cameli comandou um esquema de fraudes em licitações para obras públicas no Acre que levou a um prejuízo estimado em pelo menos R$ 150 milhões.
STJ torna governador do Acre réu em ação que apura fraude em licitações
Operação Ptolomeu
A operação Ptolomeu investigou supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro por membros ligados ao governo do Acre. A Polícia Federal, com apoio da Controladoria-Geral da União (CGU), deflagrou, no dia 16 de dezembro de 2021, a primeira fase da operação, quando foram cumpridos 41 mandados de busca e apreensão e um mandado de prisão no Acre, Amazonas e Distrito Federal.