Na máxima do dia, o dólar comercial chegou a R$ 5,48. Para a elaboração do ranking, entretanto, a Austin Rating considerou as taxas de câmbio de referência Ptax, divulgadas diariamente pelo BC. Nessa modalidade, o dólar encerrou esta quarta-feira cotado a R$ 5,46.
Entre os motivos para a disparada do dólar, estão a expectativa sobre a taxa básica de juros dos Estados Unidos, os resultados da balança comercial brasileira e as preocupações em relação ao quadro fiscal do país. (entenda mais abaixo)
O levantamento feito pela Austin Rating mostra que a moeda nigeriana é a que mais se desvalorizou frente à moeda norte-americana em 2024, com perdas de 41,3%. Na sequência, estão as moedas do Egito e do Sudão do Sul, com quedas de 35,2% e 29,9%, respectivamente.
Ocupa a outra ponta a moeda do Quênia, que se valorizou 22,1% no ano, seguida pelas moedas da Rússia e do Sri Lanka, que avançaram 7,3% e 6,2%, respectivamente. Veja o ranking abaixo:
“Entre os países piores do que o Brasil, temos nações que enfrentam algum problema de confronto civil, como Nigéria, Egito, Sudão do Sul e Gana, o que justifica a desvalorização”, explica o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.
Por que o dólar está em alta?
- Política monetária dos EUA
As mudanças de sinalizações do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sobre a condução dos juros nos Estados Unidos ajudam a explicar a força do dólar ao longo de 2024.
Nos últimos meses, sinais de um mercado de trabalho aquecido e de uma atividade ainda forte trouxeram preocupações ao BC norte-americano sobre a trajetória de inflação na maior economia do mundo – o que acabou postergando o início do ciclo de cortes de juros pela instituição.
A queda dos juros nos Estados Unidos ajuda a valorizar o real frente ao dólar. Quando os juros estão elevados por lá, a rentabilidade das Treasuries (títulos públicos norte-americanos), os mais seguros do mundo, é maior. Assim, quem busca segurança e boa remuneração prioriza o investimento no país.
Em relação a moedas emergentes, como o real, o movimento de valorização do dólar fica ainda mais evidente, porque investidores deixam as aplicações mais arriscadas para destinar recursos aos EUA. Quanto menos dólar entra no mercado brasileiro, mais a moeda norte-americana se valoriza.
“Quando há uma uma certa preocupação em relação ao cenário internacional, é natural que os investidores realoquem seus capitais, refaçam suas carteiras e retirem investimentos de países emergentes”, explica Alex Agostini, da Austin Rating,
- A balança comercial brasileira
A balança comercial do país é a diferença entre o que o país exporta ou importa. Essa variação influencia no dólar da seguinte maneira:
- Quando as exportações estão melhores que as importações, o Brasil vende mais produtos para fora e recebe dólares por isso. Com muita moeda na praça, o preço cai.
- E quando as importações estão melhores, o país compra mais itens lá fora e paga com os dólares. Então, mais moedas saem do país e o preço sobe.
Segundo especialistas, o movimento ocorre porque há uma menor demanda internacional, que também está relacionada às movimentações de juros observadas nos Estados Unidos. Na prática, ocorre um movimento de reprecificação, o que gera redução na liquidez internacional.
- O quadro fiscal do Brasil
O quadro fiscal brasileiro também tem sido contabilizado pelos economistas e visto como um dos fatores que ajudou a desvalorizar o real nos últimos meses.
Em abril desse ano, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou uma mudança na projeção fiscal do Brasil. A nova previsão passou a ser de déficit zero para 2025 — e não mais de superávit de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), como previsto até o ano passado.
Na leitura do mercado, a mudança na meta significa abrir mais espaço para gastos – mesmo em um cenário de dificuldade do governo em aumentar as receitas e apenas no segundo ano de existência do novo arcabouço fiscal.
Recentemente, os gastos públicos do governo ganharam ainda mais a atenção do mercado após novas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Nesta terça-feira (18), a nova alta do dólar ocorreu na esteira das declarações de Lula contra a política monetária do Banco Central do Brasil (BC) e contra o presidente da entidade, Roberto Campos Neto.
“Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está”, afirmou Lula, em entrevista à Rádio CBN.
O aumento dos conflitos também significa uma fuga para o dólar, que é considerado um investimento mais seguro. Esse processo valoriza a moeda norte-americana e, por consequência, desvaloriza as moedas emergentes.
Entenda por que o dólar disparou em poucos dias
*Com reportagem de Artur Nicoceli e Isabela Bolzani