Talvez por isso a prática tenha viralizado nas redes sociais tão rapidamente, com cada vez mais adeptos e uma linguagem própria.
Ultramaratonista, educador físico e professor de corrida, Itamar Bernadineli, de Ribeirão Preto (SP), acredita que o crescimento de adeptos às corridas se dá por conta da praticidade que é correr.
“Você não precisa de um horário como na academia, que espera um aparelho para poder fazer. Você se enturma mais fácil com o grupo, você é motivado a todo o momento, então é muito mais fácil. Inclusive, a procura hoje em dia é muito maior por parte das mulheres”.
Itamar Bernardineli, ultramaratonista e educador físico de Ribeirão Preto explica alguns termos usados na corrida — Foto: Arquivo Pessoal
De acordo com a TicketSports, que concentra o calendário de corridas mais completo do Brasil, no país, cerca de 13 milhões de pessoas praticam o esporte e, dentro desse universo, termos como pace, longão, RP e planilha dominam as rodas de conversa de corredores.
Incomum para quem não corre, o vocabulário, geralmente, faz referência à dinâmica da corrida e ajuda na hora de alcançar novos objetivos dentro do esporte.
Ao g1, Bernadineli explicou alguns desses termos que são quase um dialeto dos corredores. Veja abaixo:
Pace
A palavra pace vem do inglês e significa ritmo na tradução livre. Para a corrida, o pace significa o ritmo médio em que o corredor percorre um quilômetro em minutos.
“Se eu corro em uma hora, 10 quilômetros, então o meu pace ou o meu ritmo de corrida tem de ser de seis minutos, para poder dar os dez quilômetros. À medida que o pace é mais baixo, mais rápido você é”.
Recém-corredora, a universitária Julia Takizawa, de 22 anos, decidiu começar a prática no final de 2023, incentivada por uma amiga.
De lá para cá, já participou de provas de 10 e 5 quilômetros e conta que, no início, o termo pace era o único que ela sabia.
“As outras coisas, fui aprendendo conforme consumia conteúdo. Eu sou uma pessoa que estuda muito, quando gosto de alguma coisa. Acabou sendo algo que fui aprendendo e me familiarizando”.
Julia Takizawa estuda em Ribeirão Preto, SP, e começou a correr em dezembro de 2023 — Foto: Arquivo Pessoal
Pacer
O termo faz referência ao responsável por comandar o ritmo da corrida. Os ‘pacers’ ou também conhecidos como ‘coelhos’ são atletas especializados em manter o pace durante a corrida e ajudar outros corredores a atingirem seus objetivos de tempo e distância.
“Você vai fazer 10 quilômetros, por exemplo, e quer fazer em 45 minutos, então o pacer vai ser a pessoa que vai ditar o ritmo, te acompanhar. Ele vai estar ali monitorando o tempo. Pode ser usado tanto em treinamento como em provas”.
Corrida no Vida e Saúde — Foto: Divulgação
Longão
O treino chamado de longão é aquele feito, geralmente, aos finais de semana e que têm distâncias maiores do que as realizadas durante o treinamento da semana.
Ou seja, se normalmente o atleta corre 5 quilômetros, qualquer distância que corra acima disso já é considerada um longão.
Itamar explica que eles servem para aumentar a resistência cardiorrespiratória e dar ao atleta um condicionamento para atingir novos objetivos, seja em tempo ou distância.
O longão é feito aos finais de semana para dar ao corredor o tempo de descanso para voltar aos treinos na segunda-feira.
Longão é feito aos finais de semana para dar ao corredor o tempo de descanso para voltar aos treinos na segunda-feira. — Foto: Getty Images/Via BBC
Óculos ‘baixa pace’
Os óculos de corrida, além da função de proteção, se tornaram item de moda e virando meme nas redes sociais.
Chamados também de óculos de ciclope, referência ao personagem americano pertencente ao Universo Marvel, são frequentemente associados à forma de fazer determinada distância em um tempo menor.
A brincadeira se dá porque, além de proteger os olhos contra raios solares e elementos externos, os óculos ajudam o atleta a enxergar melhor, mas, obviamente, não são capazes de baixar o pace de um corredor.
Óculos de corrida viram meme nas redes sociais — Foto: Quino Al/Unsplash
Além dos óculos, tênis específicos e bermudas de compressão podem ajudar o atleta a ter um desempenho melhor.
Júlia, que corre há quatro meses, conta que, no início, é possível correr com o que já se tem casa, mas com o tempo algumas necessidades vão surgindo.
“Acabei comprando mais um tênis, comprei um óculos recentemente também, porque a gente vai sentindo a necessidade, mas não é uma coisa que você precisa pra começar”.
Treino regenerativo
Ao contrário do longão, os treinos regenerativos são aqueles feitos normalmente em dias após provas e competições.
Como nesses dias o desgaste físico e energético é maior, é recomendado que no dia seguinte seja feito um treino leve, para que a musculatura consiga se regenerar.
“A musculatura, após uma prova, fica cheia de microlesões, fica muito desgastada. Então, no dia seguinte não vai ser possível fazer um treino igual ao habitual, é feito um treino em uma intensidade menor”, diz Bernadineli.
Planilha
Feita para ajudar corredores, a planilha é desenvolvida por um educador físico e elaborada de acordo com a necessidade e objetivo de cada indivíduo.
Os treinos são divididos por dia com distâncias, tempos de corrida e caminhada, e recuperação.
A planilha varia também conforme o desempenho do atleta, que normalmente é consultado pelo profissional por meio de aplicativos interligados com relógio ou celular, que mostram como foi a corrida em determinado período.
Julia Takizawa já participou de diversas provas de corrida em Ribeirão Preto — Foto: Arquivo Pessoal
Apesar de a planilha ser muito útil, Júlia diz que é possível correr sem contratar um profissional.
Ela começou sozinha e atualmente divide dicas com um grupo de amigos.
“A gente começou a correr e dentro desse grupo tem um personal que tira dúvidas, mas não é um acompanhamento. É mais uma ajuda ali quando a gente precisa”.
Recorde Pessoal
Por fim, e almejada por todo corredor, a sigla RP. Ela significa recorde pessoal e representa o menor tempo que uma distância foi feita por aquele atleta.
“O corredor é engraçado. Ele vai lá e gasta uma hora pra fazer 10 quilômetros e quer bater o recorde dele. Se ele fizer em 59 minutos e 59 segundos, ou seja, ele diminuiu um segundo do seu tempo, fica super feliz. Mas se ele fizer em uma hora e um minuto, a corrida pra ele acabou”.
*Sob a supervisão de Flávia Santucci.