William Bonner: Samory passou por um sustão no sábado (4): o pai dele ficou correndo riscos na região em que estava, porque a água subiu. E o Samory deveria estar agora treinando insistentemente para obter essa marca e ir para Paris. Mas o que você está fazendo agora, Samory, nesses dias?
Samory Uiki: Como todos os gaúchos, pelo estado e pela cidade, tenho ajudado aqui nos evacuados, tenho ajudado a transportar coisas pela cidade, tenho ajudado aqui da forma que a gente pode. A gente sabe que é um momento muito grave, é uma tragédia que assolou nossa região, inédita na história. Então, tenho tentado fazer a minha parte, assim como todos os voluntários aqui nessa corrente, que a gente talvez seja única na história do nosso estado e talvez do Brasil, de pegar a mão dos outros e ajudar o próximo.
Bonner: Em 1941 teve uma história parecida, mas é óbvio que este drama que está sendo vivido agora é muito maior. De que maneira está ajudando? Você tem um carro? Você transporta pessoas ou você está transportando material?
Samory: Eu tenho três materiais, principalmente: comida, doações e tudo o que for necessário aqui, levando a Sogipa, levando de outros abrigos também. Tenho rodado muito a cidade nesses últimos dias, ajudando da forma que eu posso, me oferecendo com o carro, principalmente. Também aqui, um pouco no acolhimento da Sogipa também. Em meio disso tudo, a gente acaba, nesse momento, não conseguindo pensar muito em treinos, em Olimpíada, porque é um momento muito atípico. Então, a gente está tentando fazer o possível para sair da situação o quanto antes.
Bonner: Tenho a certeza de que milhões de brasileiros estão te ouvindo agora e estão numa energia enorme para você obter a sua marca, estar em Paris e representar o Brasil.
Samory: Obrigado pelo espaço. Queria agradecer também ao Jornal Nacional por fazer essa cobertura. Significa muito para nós, gaúchos. Gostaria de dar um recado também para os nossos governantes para se preocuparem com esse aquecimento global, com as mudanças climáticas, que a gente pode evitar esse tipo de tragédia e vamos seguir juntos.
O Jornal Nacional também conversou com Lisiane Machado, da Sogipa, que é o clube que está acolhendo pessoas.
“Minha missão aqui hoje é fazer a integração da coordenação do abrigo junto à equipe de voluntários que fica instalada aqui na Sogipa e a conexão com os órgãos da prefeitura que estão nos ajudando a atender. Estamos aprendendo a fazer esse trabalho”.
Bonner: Essas roupas que eu estou vendo aqui são todas mandadas por associados da Sogipa ou vieram também de outras áreas?
Lisiane Machado: Temos de todas as áreas. Eu sei que a comoção, podemos dizer, está mundial em relação ao que está acontecendo aqui. Então, graças a Deus, é o que a gente tem recebido muito aqui é doação e tem vindo de tudo o que é lado. Não dá para dizer que é somente associado.
Bonner: Muito bonito o trabalho que vocês estão realizando. Eu tive a oportunidade de conversar com alguns dos voluntários e eu tive a oportunidade de abraçar quatro pessoas que foram acolhidas e elas estavam sorrindo. Eu observei o seguinte: estavam sorrindo porque encontraram o cara da televisão. Se elas tivessem me encontrado lá fora, sem o acolhimento que tivessem aqui, você acha que elas estariam sorrindo para mim? Não teriam como.