William Bonner: O senhor, nesta semana, encaminhou ao Ministério da Justiça um pedido de investigação de pessoas que, por meio de perfis na internet, andaram divulgando, disseminando desinformação – nas suas palavras. Eu gostaria de saber quais são as consequências práticas que o senhor espera obter desta sua iniciativa?
Paulo Pimenta: Em primeiro lugar, é coibir. Existem fake news, existem desinformações que são criminosas, especialmente quando elas envolvem questões de saúde pública, questões sanitárias. E algumas dessas fake news foram extremamente prejudiciais para o trabalho de resgate.
Bonner: De que forma isso aconteceu, ministro?
Pimenta: Por exemplo, no último domingo houve uma fake news de que oito ou nove pessoas tinham perdido a vida na UTI de um hospital, e rapidamente se espalhou que a causa disso foi um pedido de socorro não atendido pelo Exército. Isso foi tão forte que nós tínhamos que mobilizar, tirar equipes que estavam no resgate para irem para esse hospital. E quando chegaram lá, não era verdade.
Bonner: Houve uma mobilização de homens para cobrir o que seria esta falha de atendimento.
Pimenta: Chegaram lá, foram hostilizados pela população que havia acreditado nas fake news, e tudo não passava de uma grande mentira. E tirou nossa capacidade de trabalho, que poderia ter sido utilizada naquele momento grave, agudo, para salvar vidas que precisavam naquele momento da nossa capacidade de trabalho, de mobilização.
Bonner: Como jornalista e cidadão, eu tenho redes sociais. Eu não tenho a menor dúvida do poder nocivo das fake news e da existência da presença delas no mundo inteiro. Dúvida nenhuma. Mas me chamou atenção que entre as postagens que o senhor me encaminhou no seu pedido de investigação, algumas não têm uma característica tão clara de fake news. Muitas têm fake news, indiscutível. Mas algumas têm uma característica mais de uma crítica ou de um comentário crítico ao governo. Eu gostaria de saber qual foi o critério que o senhor aplicou para incluir estas postagens também no seu pedido de investigação.
Pimenta: Eu respeito como um princípio a liberdade de expressão. Jamais partiria de mim qualquer iniciativa que tentasse censurar ou transformar um debate político em uma momento tão delicado e tão sério como esse. O que nós procuramos encaminhar é para que a Polícia Federal identifique iniciativas que, do nosso ponto de vista, prejudicaram as ações que estão sendo realizadas, especialmente de resgate e salvamento, e a nossa capacidade de mobilização para abastecer – a vinda de remédios, a vinda de alimentos. Nós tivemos fake news claramente nesse sentido de prejudicar a chegada de remédios e de alimentos.
Bonner: Sim, inventaram que não estavam deixando chegar remédio, que a Anvisa também não deixou chegar remédio.
Pimenta: Perfeitamente, que a Anvisa estava impedindo que aviões chegassem no estado; que a Polícia Federal, a Receita Federal, estava exigindo a nota fiscal de donativos. E tudo isso era mentira. É muito difícil, às vezes, até entender no momento em que há um esforço. E o presidente Lula nos orientou, eu e o ministro Valdez Góis, que estamos aqui coordenando o trabalho do governo federal, nós trabalhamos com absoluta harmonia com o governo do estado, com as prefeituras, em um grande esforço de união. Eu fico pensando o que leva uma pessoa sentar atrás de um computador e produzir desinformação e divulgar isso de forma industrial? É difícil até entender, no meio de uma tragédia, o que leva uma pessoa a fazer uma coisa dessas.
Bonner: Temos uma tragédia e ainda há pouco a previsão do tempo para o fim de semana e para os próximos dias, até quinta feira da semana que vem, não trouxe boas notícias para os gaúchos. Vem um frio enorme aí. Quais são as prioridades de ação deste momento do governo federal no auxílio ao Rio Grande do Sul?
Pimenta: Infelizmente, de fato, a previsão meteorológica não é boa. Hoje, durante todo o dia, nós trabalhamos forte em duas frentes. A primeira nós temos ainda mais de 130 pessoas desaparecidas, e nós temos a enchente subindo na Zona Sul. Então, o trabalho de resgate e salvamento não pode parar. Enquanto nós não tivermos a certeza de que todas essas pessoas podem ser salvas, nós não vamos parar esse trabalho de resgate, de salvamento. E o outro desafio é aquele que o presidente Lula tem repetido sempre, que é garantir a dignidade para essas 70 mil pessoas que estão nos abrigos, mais de 200 mil pessoas que saíram de casa, que não sabem como estará a sua casa quando voltarem. E que nós temos que, todos os dias, garantir a alimentação, água potável, higiene, higiene pessoal. Eu visitei um abrigo ontem, Guaíba, teve três partos ontem, de ontem para anteontem, e dois na noite passada. Cinco partos: nasceram quatro meninas e um menino em um abrigo em Guaíba, com 1,3 mil pessoas. Tem que garantir condições mínimas. Você visitou aqui a questão dos pets. Setenta mil pessoas são mais de 200 mil refeições por dia, que junto com a Defesa Civil do estado, junto com os municípios, nós temos que dar condições para que elas sejam produzidas. Toda a parte de assistência médica. Então, é realmente um desafio enorme, e a nossa prioridade é resgate, salvamento e dignidade para as pessoas que estão nos abrigos.