“Nós temos diques, a água entrou para cá, agora vai demorar muito tempo, talvez 45, 60 dias, para tirar a água pro outro lado. Essa água não vai sair naturalmente, diferente de lugares que não tem diques, onde a água vai e volta. Aqui, passou e não retorna exatamente porque nós temos uma grande piscina”, diz Jorge.
Os diques são elevações de terra que formam uma espécie de muro que separa a cidade de rios, arroios ou áreas alagadiças. No entanto, como a água ultrapassou os diques de Canoas e ficou represada na cidade, se torna mais difícil para que ela volte ao curso normal.
Imagem aérea mostra alagamento em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre — Foto: Carlos Macedo/AP
O professor Fernando Mainardi Fan, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, explica que o bairro Mathias Velho, um dos mais populosos de Canoas, alagou muito rápido porque houve o rompimento do dique.
“Esse dique, quando galga – quer dizer, que a água passa por cima –, vai causando erosão e forma brechas. Então, esse dique rompeu e, quando ele rompeu, ele inundou muito rápido esse bairro da cidade que era, até então, protegido”, afirma.
Além disso, afirma que na hidrologia há uma discussão sobre o paradoxo do dique, que questiona se a construção de uma estrutura do tipo é benéfica ou não para uma cidade, visto que áreas próximas a cursos de água estão mais sujeitas a alagamentos.
“Se aquela área não fosse protegida pelo dique, ela ia inundar mais frequentemente, mas a gente ia investir menos nela e o dano total talvez fosse menor do que agora que tem o dique. Isso é um dos motivos que nos faz pensar: será que vale realmente a gente tomar essa medida estrutural, construir um dique, sendo que um dia ele pode ser superado e causar um dano enorme?”, questiona.
O prefeito Jairo Jorge defende a elevação das estruturas, para evitar que a água volte a passar por cima dos diques.
“Estávamos preparados para a pior enchente que tinha acontecido [1941]. Tomamos como referência. A cidade tinha diques de 5 metros, mas a água extravasou por cima do dique. Temos que pensar, a partir de agora, que estamos num terreno desconhecido. Pensar agora, através de estudos e pesquisas hidrológicas, que altura nós vamos ter. [Ter diques de] 5 metros não foi suficiente, temos que ter 6, 7 metros. Tornar nossos diques mais robustos”, comenta o prefeito.
A atualização do boletim da Defesa Civil, na quarta-feira (8), ainda aponta que além das 100 mortes confirmadas, há outros 2 óbitos sendo investigados, 130 desaparecidos e 374 feridos. São 230,4 mil pessoas fora de casa. O estado tem 425 dos seus 497 municípios com algum relato de problema relacionado ao temporal, com 1,476 milhão de pessoas afetadas.
Globocop flagra cavalo em cima do telhado de uma casa alagada em Canoas
Situação em Canoas
A estimativa da prefeitura é de que mais de 180 mil pessoas tenham sido atingidas no município. A cidade tem 347.657 habitantes, segundo o censo de 2022.
O volume de chuvas foi de 301,8 milímetros nos últimos dias na cidade – mais do que a soma das médias de abril e maio. Canoas é banhada pelos rios dos Sinos, Gravataí, e a água avançou sobre 60% da cidade, atingindo toda a Região Oeste até a Rua Brasil, no Centro.
Canoas inundada durante enchente no Rio Grande do Sul — Foto: Globo/Reprodução
O Hospital de Pronto Socorro precisou ser evacuado. Os pacientes foram transferidos para outros locais.
“A cidade está destruída, vamos ter que reconstruir ela. Das 27 unidades básicas, perdemos 19. Das quatro UPAs, perdemos três. Das cinco farmácias distritais, perdemos quatro. Todos os quatro CAPS [Centros de Atenção Psicossocial] nós perdemos. Destruição na saúde. Todas as escolas foram atingidas. Metade da cidade. Perdemos infra-estrutura, centro esportivo, equipamentos. Vamos reconstruir”, afirma o prefeito Jairo Jorge.
Milhares de moradores recebem doações em Canoas